Mensagem de Pai João de Aruanda - 4

Do livro “Alforria” - Robson Pinheiro, pelo espírito de Pai João de Aruanda

PERFEIÇÃO. ELA EXISTE? OS OUTROS PODEM ERRAR, SABIA?

Você sabia que é permitido errar, meu filho? De ninguém se exige sucesso durante a vida inteira, pois mesmo que você queira acertar sempre, ainda continuará sendo gente, mortal. Nego-velho acha que esse alto nível de exigência e essa cobrança por perfeição são pesos muito grandes. É algo tão opressor que não conseguem estar bem. Repare que não se exige perfeição; porém, qualidade, contentamento e satisfação são elementos essenciais. Esperar do outro e de si mesmo atitudes rigorosamente corretas e respostas absolutamente perfeitas é apostar com certeza na insatisfação pessoal e na infelicidade íntima.

Por incrível que pareça, meu filho, você não precisa ser perfeito para ser feliz. Em primeiro lugar ame-se, compreendendo seus limites e, em seguida, procure degustar o que a vida lhe oferece. Ser feliz é resgatar a simplicidade em nossa intimidade e também reconhecer o quanto nos falta percorrer, sem nos deixarmos desencorajar jamais. Nego-velho às vezes é chamado para socorrer alguns filhos que supõem que seus problemas são os únicos no mundo. Certas exigências que depositamos nos companheiros, amores e amigos acabam por sufocar tais relações, que poderiam ser promissoras.

Quanta gente no mundo não abortou relacionamentos abençoados devido ao exagero de normas e de expectativas no dia-a-dia? Quantas vezes usa-se a palavra para exigir, protestar e quantas outras para reconhecer ou incentivar? A palavra é poderoso instrumento da mente nos relacionamentos que a vida física proporciona, podendo abrir estradas ante a nossa cegueira espiritual e nossa insensibilidade emocional. É no campo dos relacionamentos interpessoais que se expressam com maior intensidade e provocam abalos mais ou menos permanentes.

Você tem consciência, meu filho, de que todas as pessoas podem errar também, tanto quanto você? Nego-velho afirma que tudo o que nos incomoda no outro ou não nos agrada é puro reflexo de nossa insatisfação conosco. Há um momento na história de cada um que é o ideal para a alforria da alma, a libertação dos sentimentos e dos relacionamentos castradores e perfeccionistas. Essa hora sempre chega para cada um. Em qualquer relação, um mais um não forma um ser fundido no outro, mas dois seres temporariamente unidos, embora cada parte conserve sua individualidade, seus deveres e direitos, assim como o direito de errar.

Não adianta ficar pedindo ajuda a pai-velho e aos guias para que interfiram nos relacionamentos, ajudando para tudo das certo, que pode ser o certo de acordo com o seu ponto de vista. A melhor forma de solucionar impasses desta natureza é conscientizar-se de que outros não são você, portanto não se portam de acordo com seus padrões e referências. E, nada no mundo pode provar que seus padrões de vida sejam melhores ou piores que o do próximo. Não é questão de estar certo ou errado, mas de compreender, aprender, compartilhar, dialogar, construir junto e respeitar as diferenças. Já imaginou quanto seria muito mais fácil partilhar da vida caso pudesse acatar as dificuldades do outro como naturais e auxiliar, quando solicitado, na busca pela qualidade e excelência na vida de quem você ama?

Seja como for, meu filho, dê uma chance a si mesmo. Cobre pouco menos, compreenda os limites alheios e seja menos perfeccionista. É bem melhor admitir nossas falhas e pedir ajuda do que expor a dos outros. Mostrar inteligência, meu filho, dependendo do contexto, pode irritar qualquer um. Reconhecer seus defeitos sem exigir perfeição dos demais pode enternecer qualquer coração.

APRENDA COM OS ERROS

Errar todos erram, mas transformar o erro em aprendizado é para poucos. Estacionar no erro pode gerar imensas conseqüências para meus filhos: no entanto, a cobrança de acertos de forma permanente traz conseqüências gravíssimas para qualquer um. É importante reconhecer, meu filho, que você não é nem santo nem fraude. Os desacertos da caminhada humana são inúmeros, e isso não só é natural, como previsto. Analisando o percurso da vida espiritual, muitos filhos se angustiam ao se deparar com suas limitações e imperfeições. Contudo, Nosso Senhor nunca se enganou quanto aqueles que chamou. Ele não conta com comportamentos elevados ou atitudes éticas e acima de qualquer suspeita, pois sabe que ainda não estão preparados para isso. A exigência consigo mesmo é algo puramente humano.

Os tropeços e percalços da jornada fazem parte do processo educativo, que visa ao amadurecimento durante a caminhada. Também são úteis para preservar-nos do orgulho, que nos nubla a alma quando nos consideramos melhores que os irmãos de humanidade. Nossa capacidade de aprender com nossos limites, falhas e defeitos é que cria em nós a resistência para enfrentarmos desafios maiores no futuro. Ajunte forças, reúna pedaços do seu coração e dos demais e aglutine tudo com profundo amor. Trabalhe incessantemente, de mãos dadas, compreendendo a si e aos outros, que certamente farão coisas maravilhosas. Nenhuma corrente ou senzala poderá impedir seu crescimento espiritual, social ou emocional. Você é luz eterna, candeia com substância divina, capaz de iluminar corações e deixar impressas suas marcas em outras vidas.

Sua presença é importante para a felicidade do outro, e, por isso mesmo, você deve se conscientizar de que está apto a fazer diferença por onde anda. Contente-se em apenas ser humano. Deixe de lado tanto o medo de errar como a frustração por causa de suas fraquezas e trabalhe, lute humanamente para superá-las, abraçando aqueles que dividem o caminho com você. Mostre-se mais humano, menos exigente e mais, muito mais, compreensivo. Nego-velho não sabe o que você fará com estas palavras, mas estou torcendo para que você no mínimo reflita um pouco sobre elas.